Por Reginaldo Silva- Professor, Radialista e Jornalista

A morte de Pátroclo determinou a volta de Aquiles à Guerra de Troia. O fato foi preponderante para o retorno do guerreiro ao combate, simbolizando a ruptura de seu orgulho e o início da sua tragédia pessoal.
A política, como a guerra, é feita de fatos que moldam as atitudes e decisões, de acordo com o sentimento do último acontecimento.
A raiz do rompimento de Roberto Cláudio com o PT ocorreu em 2022, quando ele venceu a batalha no PDT para sair candidato ao governo do Estado e houve o rompimento da aliança com os petistas. Naquela ocasião, Roberto Cláudio e Capitão Wagner foram derrotados no primeiro turno da eleição por Elmano de Freitas. Ali começava o antipetismo de Roberto Cláudio e a aproximação com Capitão Wagner, também adversários históricos.
Dois anos depois, na eleição para a Prefeitura de Fortaleza, Roberto Cláudio ou a apoiar a reeleição do prefeito José Sarto, sendo novamente derrotado por um petista. Wagner não ou do primeiro turno e o bolsonarista André Fernandes seguiu na disputa, conseguindo unir todos no mesmo bloco, em uma das eleições mais acirradas de todos os tempos na capital cearense.
Essa derrota conseguiu unir os grupos derrotados, com o discurso de que “as diferenças são enormes, mas não são maiores do que o sentimento antipetista que os une”.
Um dos encontros mais emblemáticos e inesperados dessa nova aliança foi protagonizado pelo ex-prefeito Roberto Cláudio e o ex-presidente da República Jair Bolsonaro, a fim de estreitarem as relações e formarem uma unidade de oposição no Ceará.
Roberto Cláudio e Bolsonaro ainda não haviam se encontrado. Os dois estavam no governo durante o período da pandemia e eram opositores: o prefeito da capital cearense com o discurso da ciência; o outro, defendendo o uso da cloroquina, um apoiando o confinamento, o outro, a liberdade de circulação. As ideias eram completamente antagônicas, mas isso é coisa do ado.
Nesta semana, Roberto Cláudio anunciou a desfiliação do PDT e a formalização de sua entrada no União Brasil, ao lado de Wagner e Carmelo Neto, simbolizando a união com a direita e o início da caminhada rumo ao governo do Estado em 2026. O caminho é longo, embora pareça tão próximo. Os fatos que ainda deverão se suceder moldarão o percurso dessa jornada.
Ao ser questionado sobre sua aproximação com Bolsonaro, Roberto Cláudio justificou sua atitude demonstrando exemplos de aproximação política de antigos adversários, citando os casos do vice-presidente Geraldo Alckmin e do deputado federal Eunício Oliveira.
O jogo está apenas começando e outros fatos ainda virão. Contudo, em algum momento, Roberto Cláudio vai ter que resolver um problema eleitoral com os bolsonaristas para cultivar esse apoio: o que ele pensa sobre o 8/1, sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas e sobre a anistia de Bolsonaro. Não dá para ser aliado de bolsonaristas sem receber o pacote completo. Como o eleitor vai reagir à aproximação com Bolsonaro é outra incógnita.
A Ilíada termina antes do fim da guerra, com os funerais de Heitor. Outros autores contam o fim de Aquiles. Por aqui, vamos aguardar o desfecho dessa batalha política no Ceará que tenta unir gregos e troianos.